3.12.08


"Perdoa, meu amor, perdoa/Perdoa se lhe magoei/A minha vida era só melancolia/Até você me aparecer um dia/Como se fosse uma rosa fugidia/Fez dos meus sonhos esta louca fantasia"


Eu não sei o que sinto. Simplismente sinto. Desejo medo. Meus pés estão sobre as pedras de uma cachoeira linda, estou no limite da queda das águas, quero jogar-me. Cair nas águas, sentir seus frescor, sua energia. Mas parece alto demais, violenta demais suas águas. Então, o medo me toma. E fico estática. Ali em cima. Olho para ela. Envolvente. Sedutor movimento. Ouço sua voz. É música. Ela me conta muitas coisas e sinto mais vontade de atirar-me em suas águas. E mais medo. E fico confusa. Não quero perder essa sensação, não quero perder-te. Mas tenho de deixar a vida seguir seu fluxo, cada gota tomar seu caminho. Porque resistir? É tudo tão desconhecido. Ou conhecido? Parece, volto ao passado ao te sentir. Como se já tivesse sentido isso. E a dúvida me toma. Não quero. Eu quero. Eu quero o colo. O beijo d'água doce em meu rosto. O abraço, o envolvimento do rio que me toma. Fecho os olhos. Eu sou a água. Toda a sensação passa em minha mente como realidade. Vivencio em meus poros. Mas continuo ali. Parada. Os pés escorregam sobre as pedras. Piso em falso. A insegurança se apodera de mim. Preciso me tornar mais água, fluída como ela. Mais pedra, firme. Entrego-me a minha natureza.

Imagem: René Magritte, The evening dress, 1954.
Excerto: Casemiro Viera, Perdoa, meu amor.

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