1.12.11


Um ciclo lunar se fecha. E a dor vem novamente. Cada vez estou mais lúcida e mais jogada ao chão. O ego estraçalhado. Passei por muitas dores nesses meses. Plutão quadrado vênus. Algo como um rolo compressor sobre o meu feminino. O ferro da vênus ariana está sendo colocado no fogo, para ser moldado. Hades-Ferreiro faz brotar do ferro a sua essência e, com seu martelo e calor, deixa aparecer o que precisa vir à tona. Há um amolecimento. Quebra do orgulho que esconde o desamor, o desamparo e o sentimento de solidão. Tive muita vontade, nesses tempos, de dizer o quanto dói o desamor. Cada vez acredito menos na possibilidade do encontro. E cada vez menos quero que ele aconteça. Desesperança. Palavra que apareceu na carta 8 do naipe de copas. Desesperança, des-espero. Não espero mais. Será? Uma certa raiva infantil toma conta de mim, por essa esperança brasileira, de retirante que a cada passo cruza com a morte, mas ainda assim acredita na vida. Mesmo diante da seca, do chão rachado, dos pés calejados, do boi morto, dos cactus, do abutre rondando, há uma esperança verde.
E a ilusão se renova. Dia desses vi uma menina cuja tatuagem tinha os seguintes dizeres: "pequenas porções de ilusão". Trecho de uma música do Cazuza. Na hora pensei: "nunca tatuaria isso em mim". Eu fujo da ilusão, busco avidamente a lucidez das palavras, dos sentidos, do coração. Será que me iludo na mania de ir em busca do real? E afinal, o que é real? Bastante difícil para alguém extremamente controlador não saber a resposta para essa pergunta. E ao mesmo tempo, dar-se conta que querer fugir da ilusão é querer fugir da morte, da farsa, da fuga. Ilusão. Ledo engano. Doce mentira. Onde há luz, há sombra e ela brinca com a gente e se enconde atrás de nós, embaixo de nossos pés, quando nos achamos muito iluminados, quando o sol atinge o zênite. É certo que a vida só flui com leveza. Quando encaramos tudo com um certo peso, caminhar se torna mais difícil. Quando caminhamos cheios de armaduras, carapaças, couraças o cansaço vem mais rápido. E chega uma hora, que, no meio do caminho. No caminho do meio, precisamos abandonar as armaduras, se quisermos continuar. E é rídiculo, porque o ato simples de retirar algo como uma roupa, parece-nos impossível. Nos identificamos com a carapaça, adotamos a carapuça. E já não sabemos mais onde termina nosso corpo e começa nossa roupa.
Enfim, tentamos continuar. E o tombo outra vez é invitável. Ficamos lá, no chão, sem saber o que se passa com a gente. É um mistério. Até; depois de muito sofrer, nos damos conta que há algo em nós que verdadeiramente não faz parte de nós. E nos parte. No entanto, não lembramos mais quando foi a última vez que andamos sem armaduras. É possível andar sem elas? Plutão tem me testado nesse sentido; tirando o chão de baixo dos meus pés, me diz: "voa! Asas são para voar". E como que se usa isso? Tenho constantes dores nas costas. E como é essa coisa de abrir os braços-asas? Já não sei mexê-los. Tudo dói, sou como a borboleta que saindo do casulo, se esforça para abrir as asas. Mas é preciso acreditar que é possível, que elas existem. E que basta confiar para enfim alçar voo. Hades tem muito ainda para me ensinar. Às vezes penso, que de seu submundo não há saída, e tudo se torna um inferno. Tirei esses tempos a carta do Pan, do Lobo-mau, do Diabo, arcano 15. Preciso mais uma vez aceitar que essa natureza existe em mim, integrá-la. Existe em nós. Encosto meus pés no chão e como um anjo decaído percebo minha angelitude e demasiada humanidade.

7.11.11

Só uma coisa a dizer: as cartas não mentem jamais!

16.8.11


É engraçado que tem vezes que eu gostaria de escrever, de dizer aos quatros ventos meus sentimentos, mas ao mesmo tempo, talvez por medo da repressão, da minha própria repressão interna, eu calo. Calo os sentimentos de solidão que pulsam cá dentro. Sem vontade de me misturar, escolho estar só. Não quero ao menos mostrar minha face. Estou na caverna escura de minha alma, como se tivesse regressado ao útero da Mãe Terra. Sinto-me segura debaixo da terra. Muito segura. É úmido, escuro e quente, às vezes frio também. Mas aqui ninguém me vê. Sinto-me segura. O sentimento de segurança é pleno. Nunca antes sentido. Parece que aqui, eu posso ser o que eu quiser, afinal ninguém me vê. Nem mesmo os outros seres que aqui vivem. Todos nós estamos no escuro e permeados pela terra. Como é bom sentir a firmeza da terra! Sinto-me firme. Firme como ela. Como água, moldo-me ao jarro, ao pote, ao vaso fúnebre do submundo, repouso debaixo da terra. Aqui, meu corpo assume a forma que quer e sinto-me nutrida. Sinto como se estivesse recarregando as energias para sair folha, flor, semente. Cá dentro reinvento o mundo, não sou broto, sou semente. Sou apenas promessa, esperança, o futuro que um dia virá. Enquanto não vem, sigo cá dentro, acalentada, no escuro de minh'alma, pela Mãe Terra.

14.8.11

E quem cuida de mim?

19.7.11

Textos na gaveta


"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida."

Agora de noite, estava afim de escrever no blog, mas não muito. Só um pouco, só para nãodeixá-lo triste. Claro que há muitas coisas aqui dentro que querem sair e transformar-se em palavras, mas ainda estão muito desorganizadas. Elas não combinaram quem vai formar o que nesse texto. E também, há um certo silêncio em mim. E há coisas cá dentro, que no momento só querem ser choro, outras soluços, outras essa gripe que não me deixa em paz. E outras ainda, mais conservadoras, preferem continuar pensamento. 
Mas, onde eu estava mesmo? Ah! Na questão de que queria escrever, mas sem saber exatamente o quê, nada pulsando assim para escapulir imediatamente. Comecei então a ler alguns rascunhos do blog e vi que há dois bons textos, mas o DOI-CODI não permite a publicação deles. Preciso criar algo mais inteligente, inspirar-me em Chico Buarque e compor algo que diga tudo e ao mesmo tempo nada para o leitor ingênuo. Pretensão? É o que não me falta. Tive um Professor de Biologia muito "otimista" que nos dizia o seguinte: "Turma, sonhe, sonhe bastante, sonhe com uma limousine, que aí, quem sabe, vocês terão um fusca". Inspirador, não? Ele dava aula de Botânica, eu gostava; muita gente não gosta de botânica, muita gente não gosta de biologia e seus diversos nomes. Mas biologia é muito bom, vamos combinar?! Nada melhor do que você saber como o sistema em que se vive funciona, dentro de várias perspectivas: biológica, ecológica, social, psicólogica, histórica, astrológica (minha nova-velha paixão). Olha! Encontrei um ponto em comum entre todas as áreas que eu gosto de estudar.
Por isso, já pensei em fazer tanta coisa... Cheguei a pensar em fazer faculdade de biologia, na época eu era voluntária do Greenpeace. Isso por que, quando comecei a ver o currículo do curso... matemática, física, química - de jeito nenhum queria distância daquilo tudo. Eu tinha o sonho de viver pesquisando no meio da Amazônia, pendurada em árvores, tirando fotos, no silêncio e barulho da natureza.
No Ensino Médio, último ano, comprei o Guia das Profissões, lá estava Ecologia. Local da faculdade: Campinas-SP. Nunca que eu iria viver em São Paulo. Mas cheguei a pensar seriamente, ainda mais depois de uma palestra sobre escolha profissional, nos incentivando a ousar, seguir nossos sonhos... Bom, naquele momento, era só um devaneio. Mal sabia eu que a arte tomaria conta dos meus pensamentos e coração no fim daquele ano de 2002. Artes plásticas? Teatro? Cinema? Não, cinema não é para mim, um peixinho muito pequeno dentro desse oceano. Consigo lembrar com nitidez como naquela época o mundo era um lugar cheio de possibilidades, era vasto, grandioso mesmo, e podia ganhá-lo. Hoje ele parece tão limitado... será que sou eu?
Chega a época da inscrição... Meus pais não acompanharam todas essas modificações de pensamento. Até bem pouco, falava em Direito e agora queria fazer torto... ops Arte. Pode? Artes Plásticas: 2ª opção. Perdi a prova específica, boicote total. Mas também não passei para Direito. E eis que no outro ano, resolvo: serei Professora! "É? De que, minha filha?" De quê?? De tudo, oras! Quero aprender arte, música, teatro, sociologia, filosofia, português, literatura, psicologia, história! Ufa! Tudo isso? Sim, Marte em gêmeos. Um inferno. 
Doce ilusão, pensar que se pode aprender/ensinar tudo. Chega-se à escola e você tem conteúdos a vencer, hora a cumprir, apostilas, ensinar a ler, escrever, contar, somar, subtrair - "pede emprestado" - e ainda dar limites, manter a ordem... E há os pais, os problemas de convivência, as normas da escola, os formatos arcaicos e fracassados de ensinar e organizar crianças dentro de caixas de sapatos. Como dizia uma professora da Faculdade: "a escola é um lugar de quarentena para o tempo em que você ainda não pode trabalhar".
Concluída a faculdade, depois de passar pelo estágio, somente ao fim do curso, já sabia  que não me adaptaria à escola. Sim, um gauche não se adapta às coisas. É sempre gauche
E fui gauche, como previa meu destino. Surgiu a profissão de doula. Que ainda nem está registrada como tal. Sim, claro, trata-se de mim. E está sendo um barato ser doula. Mas outra hora conto essa história melhor. Afinal, para quem não queria escrever, até que foi muito.
Excerto: Carlos Drummond de Andrade, Poema de sete faces. Imagem: Salvador Dalí

11.7.11

O meu amor é o mar

"Quem ama um amor de longe

Tem sempre uma dor por perto...
O sonho que a onda quebra no mar
Eu não conserto...
O meu amor é meio mar
Que vem e volta na areia
Ele chega com as ondas
Me molha e me despenteia
Depois vai beijar as pedras
Com os olhos de lua cheia
É de marear, é de marear
Eu tenho um amor que mareia
Esse amor, é de marear
O cordão de ouro que você me deu
Já mareou meu amor...já mareou...
Vai que não vá marear o nosso amor
O cordão de ouro meu bem...já mareou
Aquele beijo que você me deu, tomara...
Tomara meu Deus...tomara!
Tomara que seja mais que a jóia rara!"

Gosto de contar minhas histórias através das músicas e essa bem que pudia ter sido escrita por mim. Teresa Cristina é maravilhosa, sua música, sua letra, sua voz embala minha alma, me torna leve. É incrível como ela consegue falar de uma dor sem ser pesada, ou ter uma melodia triste. De algum modo há uma esperança. Talvez, seja essa característica do samba, falar da dor sem melancolia, há sempre uma idéia de que daqui a pouco melhora, sigamos em frente. E no fim, há uma esperança de que, quem sabe, aquele beijo não mareie...

Letra e música: Teresa Cristina e Roque Ferreira, Cordão de Ouro.

23.5.11

Insistir


Desistir...

Não desisto. Embora todas as células de meu corpo e meu olhar esteja cansado de ver o mesmo.
O pobre e o podre de mim.

Cansar...

Não canso. Não canso de seguir em frente, embora minhas pernas tremam de tanto andar em busca.
De um oasis, de lugares remotos onde os dias são frios, mas doces.

Desanimar...

Não desanimo. Apesar da vida ser tão mesquinha, quanto eu. Apesar das novelas começarem e terminarem sempre do mesmo jeito.

Desacreditar...

Acredito. Sim, sou um ser crédulo, por isso não desisto, não canso, não desacredito. Para minha sorte, nasci com a pulga da curiosidade que nunca se levanta no meio de um filme monótomo, porque afinal de contas, como aquilo vai acabar? Sempre quero saber. E da minha vida nada sei sobre o fim. Só sei que não quero levantar antes do show acabar.