19.7.11

Textos na gaveta


"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida."

Agora de noite, estava afim de escrever no blog, mas não muito. Só um pouco, só para nãodeixá-lo triste. Claro que há muitas coisas aqui dentro que querem sair e transformar-se em palavras, mas ainda estão muito desorganizadas. Elas não combinaram quem vai formar o que nesse texto. E também, há um certo silêncio em mim. E há coisas cá dentro, que no momento só querem ser choro, outras soluços, outras essa gripe que não me deixa em paz. E outras ainda, mais conservadoras, preferem continuar pensamento. 
Mas, onde eu estava mesmo? Ah! Na questão de que queria escrever, mas sem saber exatamente o quê, nada pulsando assim para escapulir imediatamente. Comecei então a ler alguns rascunhos do blog e vi que há dois bons textos, mas o DOI-CODI não permite a publicação deles. Preciso criar algo mais inteligente, inspirar-me em Chico Buarque e compor algo que diga tudo e ao mesmo tempo nada para o leitor ingênuo. Pretensão? É o que não me falta. Tive um Professor de Biologia muito "otimista" que nos dizia o seguinte: "Turma, sonhe, sonhe bastante, sonhe com uma limousine, que aí, quem sabe, vocês terão um fusca". Inspirador, não? Ele dava aula de Botânica, eu gostava; muita gente não gosta de botânica, muita gente não gosta de biologia e seus diversos nomes. Mas biologia é muito bom, vamos combinar?! Nada melhor do que você saber como o sistema em que se vive funciona, dentro de várias perspectivas: biológica, ecológica, social, psicólogica, histórica, astrológica (minha nova-velha paixão). Olha! Encontrei um ponto em comum entre todas as áreas que eu gosto de estudar.
Por isso, já pensei em fazer tanta coisa... Cheguei a pensar em fazer faculdade de biologia, na época eu era voluntária do Greenpeace. Isso por que, quando comecei a ver o currículo do curso... matemática, física, química - de jeito nenhum queria distância daquilo tudo. Eu tinha o sonho de viver pesquisando no meio da Amazônia, pendurada em árvores, tirando fotos, no silêncio e barulho da natureza.
No Ensino Médio, último ano, comprei o Guia das Profissões, lá estava Ecologia. Local da faculdade: Campinas-SP. Nunca que eu iria viver em São Paulo. Mas cheguei a pensar seriamente, ainda mais depois de uma palestra sobre escolha profissional, nos incentivando a ousar, seguir nossos sonhos... Bom, naquele momento, era só um devaneio. Mal sabia eu que a arte tomaria conta dos meus pensamentos e coração no fim daquele ano de 2002. Artes plásticas? Teatro? Cinema? Não, cinema não é para mim, um peixinho muito pequeno dentro desse oceano. Consigo lembrar com nitidez como naquela época o mundo era um lugar cheio de possibilidades, era vasto, grandioso mesmo, e podia ganhá-lo. Hoje ele parece tão limitado... será que sou eu?
Chega a época da inscrição... Meus pais não acompanharam todas essas modificações de pensamento. Até bem pouco, falava em Direito e agora queria fazer torto... ops Arte. Pode? Artes Plásticas: 2ª opção. Perdi a prova específica, boicote total. Mas também não passei para Direito. E eis que no outro ano, resolvo: serei Professora! "É? De que, minha filha?" De quê?? De tudo, oras! Quero aprender arte, música, teatro, sociologia, filosofia, português, literatura, psicologia, história! Ufa! Tudo isso? Sim, Marte em gêmeos. Um inferno. 
Doce ilusão, pensar que se pode aprender/ensinar tudo. Chega-se à escola e você tem conteúdos a vencer, hora a cumprir, apostilas, ensinar a ler, escrever, contar, somar, subtrair - "pede emprestado" - e ainda dar limites, manter a ordem... E há os pais, os problemas de convivência, as normas da escola, os formatos arcaicos e fracassados de ensinar e organizar crianças dentro de caixas de sapatos. Como dizia uma professora da Faculdade: "a escola é um lugar de quarentena para o tempo em que você ainda não pode trabalhar".
Concluída a faculdade, depois de passar pelo estágio, somente ao fim do curso, já sabia  que não me adaptaria à escola. Sim, um gauche não se adapta às coisas. É sempre gauche
E fui gauche, como previa meu destino. Surgiu a profissão de doula. Que ainda nem está registrada como tal. Sim, claro, trata-se de mim. E está sendo um barato ser doula. Mas outra hora conto essa história melhor. Afinal, para quem não queria escrever, até que foi muito.
Excerto: Carlos Drummond de Andrade, Poema de sete faces. Imagem: Salvador Dalí

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