1.4.06


"Foi embora o meu grande amor, fiquei tão sozinho, sem um carinho deste mundo Senhor. Não deixe criador eu sofrer assim, faça voltar esse amor pra mim..."

Parece que será sempre dessa maneira. Um tom confessional. Essa forma de cantar, esse timbre incomoda, mas este é meu canto. Expressão dor tensão. O corpo se apequena, ele desafina e grita. Um samba de uma nota só. De mente atada, dementada, canto o meu canto no meu canto. Canto calada na noite. Noite de noite corta o silêncio que invade os cômodos da casa acomodada desacomodando meu corpo, crispando no chão, violência das paredes. Meu corpo em expansão. Queria sair. Não me deixam. Essa vida de retirante, um sol novo a cada dia. O oasis sempre mais a frente e a morte sempre a minha espera. Espera. Esperança. Muda, sentada, deitada, gorda no tapete da sala. Preguiçosa, espera doida, enlouquecida, velha-menina. Velha mania de esperar. Espera, a vida está partindo e eu estou partida, eu vou e fico. Ando e paro.
Gustav Klimt, Danae 1907-8
Velha Guarda da Portela, Volta meu amor.