20.4.11


Esqueci que sentia sede. Esqueci que a água me nutria e que sem ela sou incapaz de sobreviver. Esqueci que sentia fome, que o alimento me fortalece e que sem ele não sou capaz de seguir adiante. 
Esqueci que podia ver e esquecendo de ver, deixei de perceber o pão e a água em cima da mesa, e não comi nem bebi. Me sentia fraca e não sabia o porquê, vaguei como uma viva-morta-viva sem saber onde ir  e o que procurar. Encontrei o medo, a dor, a angústia, a estranheza, a solidão e todos me fizeram lembrar de mim mesma, da minha própria natureza livre e errante. Um dia, havia me esquecido de andar, de amar, de dar e só lembrei todas essas coisas quando comecei novamente a criar.
Havia esquecido a arte, a beleza de amar, minha alma torta de artista. Sem ela nada sou, porque ela me nutre, me alimenta, é o que me deixa em pé e o que me faz viver. É a água para o barro, aquilo que recicla a vida, aduba a terra. É o sangue que flui do meu coração todos os dias.

Imagem: Frida Kahlo, My nurse and I.

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