22.7.10

Pensando... pensando... Um nó. Um grande fio emaranhado, um grande enredo. O que é um grande enredo, senão uma boa história? Uma boa história pode começar com uma grande confusão. E sinto que essa não é diferente. Há de haver um clímax. Um mocinho e uma mocinha metidos em uma grande enrascada. Também me sinto numa grande enrascada. Talvez seja o começo de uma boa história. Escrever... contar a própria história. Pode parecer fácil, pode parecer tranqüilo, talvez até seja para aqueles grandes historiadores, grandes contadores de história. Mas eu sou uma poeta menor. Não me atrevo a contar histórias, assim facilmente. Preciso de uma fogueira, ouvidos atentos, inspiração. Silêncio. E como encontrar o silêncio em meio a esse barulho mental, macaquinhos no sótão, que não param um minuto de me incomodar?
Tenho como proposta escrever. Escrever algo que me dê prazer. Como unir prazer e dever? Proposta difícil. Mas parece que amor e dor sempre estão juntos, fazem parte de um mesmo continum. Vida-morte-vida. Sou a mulher-esqueleto e também o pescador desavisado. Estou com medo de pescar. Estou com medo do amor. Estou com medo da dor. Estou com medo da vida. Vivemos tão desconectados que já não sabemos mais do que a vida é feita. E quando ela nos encara, tomamos um grande susto. Queremos sair correndo. Queremos deixar de viver. Até que resolvemos encarar. E então, como começar a viver? Como sair do modo automático? A mente atrapalha-se, as emoções confundem-se. O coração aperta, as mãos gelam. e se instala um medo paralisante, uma agonia. Mas como é mesmo viver? Como é mesmo amar, brincar, correr, pular, dançar, morrer, renascer? Estamos perdendo a noção de ciclos e espraguejamos a natureza que ainda tenta nos mostrar como a vida funciona: primavera, verão, outono, inverno, primavera. Vida-morte-vida. Vida-morte-vida. É como uma canção. É como o silêncio. É como dançar. Preciso aprender a dançar com a vida e perceber do que ela feita e de que se alimenta.
“Pra quê rimar amor e dor?”  A dor cura. A dor faz surgir um amor genuíno. Mas quem quer sentir dor? Quem quer sacrificar o amado ego? Todos querem a tal felicidade. E nos tornamos maníacos.  Há pílulas felizes. Cafeína, cocaína, anfetamínas. Magros e felizes. Requiem para um sonho. Sorrisos a la Coringa: rasgados, amarelos, psicóides. Um louco que não continua sua jornada em busca de si mesmo e permanece na própria loucura. Preciso de silêncio, preciso parar. Preciso aproveitar o inverno que faz lá fora e me deixar desfolhar. Preciso escrever, preciso amar. Deixar a marca sobre o papel, suporte que é, senão,  meu próprio corpo. Quero relatar minhas experiências como forma de curar minhas feridas, de olhar para elas e retirar o pûs.  Mas o cheiro podre não me deixa nem ao menos olhar. E só consigo chorar de dor. Uma dor que nem sei de onde vem. Parece que de todos os lados. Do centro do peito se irradia por todo corpo. Está no sangue. O sangue passa e dói. A dor é um sinal de que ainda estamos vivos. Carne. Há uma dor em estar vivo. Esse é o aprendizado. Essa é a recompensa. E quando menos esperamos, surge a vida, um alento, um alimento. Prometeu foi condenado a ter seu fígado eternamente dilacerado e regerado pelos deuses. E Kíron, o iniciador, o curador, a própria dor, o libertou. Quero narrar minha história que é a de todo mundo. E como ser uma boa narradora? E como começar a contar uma história? Comecemos, então, por “Era uma vez...”.

Imagem: Noiva Cadáver, filme de Tim Burton

4 comentários:

ideiandomuito disse...

Oi Amanda, parabéns pelos textos.... é muito bom escrever, assim nos expressamos e temos prazer com isso... Eu tbm fiz o mesmo, já faz um ano...vai lá e olha, tem de tudo....
Te deixo um beijo,ilane

Carolina disse...

Querida, a cada dia que passa fico mais feliz de conviver e dividir momentos com uma pessoa tão especial como tu! Adorei teus devaneios, me vejo neles em alguns momentos e compartilho uma parte de um texto que escrevi esses dias:

"O olhar, sinto meu olhar penetrar a alma, a alma da família planetária, dos irmãos de conexão. Não tenha medo, não vale a pena, olhe! Troque! Você não está sozinho, nós não estamos sozinhos, nossas almas estão interligadas, sinta! Não tente entender através de palavras, nem tudo é justificado, nem tudo é pensado! Permita-se sentir a vida, sentir a nutrição o acolhimento da terra, dos seres, da vida! Totalmente vital! Totalmente presente! Entregue o seu melhor! Confie na vida, no fluxo! Permita-se a felicidade! Não julgue, pois não há certo ou errado no amor, ame essencialmente! Entenda o sentido de viver, sinta a vida, é muito mais simples do que nossa mente, nosso ego permite, não se deixe envolver pelas armadilhas mentais, pelas armadilhas dos sentimentos, observe e sem julgamentos mentais e sentimentais, de um coração ferido, se entregue, deixe a vida fluir pelas suas veias, pelo seu corpo, pela sua mente, pelo seu espírito! A felicidade está na vida, em sentir a vida, nos momentos, no presente, ela está a alcance, muito mais próximo do que nos permitimos conectá-la. Permita-se e (re)signifique o medo."

Beijo no coração

Amanda Martins disse...

How!

Anônimo disse...

Amanda que texto lindo !
Bjo
Rodrigo