21.6.06



"E apesar do estrago, tanta deselegância e violência, a borboleta assustada permanecia trêmula, e contudo cheia de graciosidade, numa dobra da rede".

És água. Sinto que escapas das minhas mãos. E quanto mais te deixo por querer que voltes, mais te perco. Prender-te seria inútil. És água. Toma outra forma, passa por outras mãos. A minha premonição: um dia o afastamento. Faz curso de água-águia corre longe. Vai. Eu sigo meu caminho, bebo outros fluídos. Conheço outros risos, experimento outros sabores. Provação. Um dia o retorno estranho. Forasteiro. Então estrangeiro te percebo te toco te bebo te provo. Não és água. O laço se perde e já não sinto mais tua falta.
Cairá uma lágrima. Mansa. Única. Em um canto só. Saboreio a solidão, estrangeira em mim. Estou só. Só se sente e só se vive. Estranho retorno do que nunca existiu.


Escher, Céu e Água.
Walter Benjamin, Caçando borboletas.

Nenhum comentário: