6.4.09



"Estavam todos mais ou menos em paz quando o rapaz de blusa vermelha entrou agitado e disse que Urano estava entrando em Escorpião. Os outros três interromperam o que estavam fazendo e ficaram olhando para ele sem dizer nada. Talvez não tivessem entendido direito, ou não quisessem entender. Ou não estivessem dispostos a interromper a leitura, sair da janela nem parar de comer a perna de galinha para prestar atenção em qualquer outra coisa, principalmente se essa coisa fosse Urano entrando em Escorpião, Júpiter saindo de Aquário ou a Lua fora de curso."


Ai me dói o peito. Quanta dor! É intensa interna não consigo chorar. Maldita dor. É mal de amor. Sou um sonhador. Vejo estrelas que já não existem mais e que daqui brilham tanto. Me apaixono por algo distante. Será que ainda brilha? Ainda ilmunina o horizonte. Ilumina a ilusão de ser logo adiante. E adiante. A mente voa, mas meus pés estão no chão. Não alcançam estrelas. Dói meu coração. Queria tocar luzes, sentir calor beleza doce de estrela. Meus pés estão no chão. Já não sei por onde ando, não sei se ando, quem me dera namorar estrelas. Piscam para mim. E sorrio mas não veem o brilho do meu sorriso pequeno e manso. Por que sonho com estrelas? Aqui tem mar-grama-fogo-ar. Quero o infinito, não tenho humildade. E as estrelas me chamam, voltam a piscar. Uma estrela cadente! Desce para ver-me. Corro até ela, mas o tal horizonte está sempre mais adiante.

Não encontro sentido no pequeno diário prosaico terreno. Um dia encontrarei? Queria deixar de fitar estrelas e sentir a terra pulsando no mesmo compasso do meu caminhar. E continua me doendo o coração. Uma dor vazia perdida sem sentido. Aflita. Onde está meu caminho? Que caminho tem coração?

Imagem: René Magritte, Espelho Falso
Excerto: Caio Fernando Abreu, Morangos Mofados.

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